Veja foto da Japinha do CV com roupa de guerra antes de ser executada em operação no RJ, ‘Era mulher do… Ler mais

Sem mostrar o rosto, mas vestida como uma verdadeira combatente, portando colete tático, farda camuflada e um fuzil nas mãos — assim ficou conhecida “Penélope”, também apelidada de “Japinha”, uma das figuras femininas mais temidas e enigmáticas do Comando Vermelho (CV). A jovem, que conquistou status de liderança entre criminosos, tornou-se símbolo da ousadia e da presença crescente de mulheres nas linhas de frente do tráfico carioca. Sua trajetória, marcada por violência, poder e mistério, terminou de forma trágica nesta terça-feira (28), durante uma megaoperação das forças de segurança do Rio de Janeiro.
A ação conjunta das polícias Militar e Civil, que mobilizou centenas de agentes, tinha como objetivo desarticular células do Comando Vermelho que operavam nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da capital. O confronto foi intenso e deixou um rastro de destruição e medo nas comunidades. Segundo informações oficiais, “Japinha do CV” foi morta com um tiro de fuzil na cabeça após resistir à prisão. A foto que circula nas redes sociais — registrada momentos antes da operação — mostra a jovem pronta para o combate, como se antecipasse o fim que estava por vir.
De acordo com fontes da Polícia Civil, Penélope era considerada uma das principais articuladoras logísticas do grupo criminoso. Responsável pela distribuição de armamentos e pelo controle de pontos estratégicos de venda de drogas, ela havia se tornado uma espécie de “musa” entre os integrantes do tráfico. Sua imagem — sem rosto, mas sempre armada e fardada — se espalhou em páginas de facções e perfis anônimos nas redes sociais, onde era exaltada como exemplo de coragem e “lealdade ao crime”. Essa idolatria digital transformou a traficante em um ícone perigoso, símbolo de uma cultura que romantiza a violência e seduz jovens nas comunidades carentes.
A morte de Japinha reacende o debate sobre o papel das mulheres no crime organizado e sobre como o tráfico tem se adaptado às novas dinâmicas sociais e midiáticas. Nos últimos anos, a presença feminina em posições de liderança nas facções do Rio tem crescido de forma preocupante. Mulheres como Penélope passaram a comandar operações, gerenciar finanças e até coordenar ataques armados, rompendo com o estereótipo de coadjuvantes no submundo do tráfico. Para especialistas em segurança pública, o caso evidencia uma nova geração de criminosos — mais conectada, estrategicamente inteligente e com forte apelo nas redes sociais.
Enquanto o Governo do Estado celebra o êxito da operação, familiares de Penélope usaram as redes sociais nesta quarta-feira (29) para pedir respeito e empatia. Em publicações emocionadas, parentes relataram o sofrimento com a repercussão das imagens da jovem morta, que vêm sendo compartilhadas em perfis e grupos de WhatsApp. “Ela já pagou com a própria vida. Não precisamos ver nossa filha sendo exposta desse jeito”, escreveu uma familiar em tom de desabafo. As autoridades reforçaram que o compartilhamento de imagens de cadáveres pode configurar crime de vilipêndio, além de ferir o direito à dignidade dos familiares.
Moradores das comunidades onde a operação ocorreu relatam uma terça-feira de tensão e medo. Helicópteros sobrevoaram a região durante horas, e o som de tiros ecoou por becos e vielas. Escolas suspenderam as aulas e postos de saúde interromperam atendimentos. Para muitos, a morte de Japinha representa apenas mais um capítulo de uma guerra que parece não ter fim. “Aqui é assim: sai um, entra outro. A vida segue, o medo fica”, contou uma moradora da Penha que preferiu não se identificar.
Com apenas 25 anos, “Japinha do CV” deixa para trás um legado controverso — de poder e brutalidade — que expõe o quanto o tráfico de drogas ainda exerce fascínio e domínio nas periferias do Rio. Sua história é um retrato cruel da realidade de jovens que, entre a falta de oportunidades e a influência do crime, acabam encontrando nas armas uma falsa sensação de prestígio e liberdade. A trajetória de Penélope, embora envolta em mistério e glamour nas redes, termina como tantas outras: com sangue, luto e um alerta urgente sobre o ciclo de violência que segue ceifando vidas e destruindo famílias nas favelas cariocas.





