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Por trás dos sorrisos ensolarados da Califórnia e das melodias vibrantes que embalaram uma geração, havia um gênio silencioso travando batalhas invisíveis. Brian Wilson, o cérebro musical por trás dos Beach Boys, morreu aos 82 anos — e com ele se encerra um dos capítulos mais sensíveis e complexos da história do rock.
A notícia, anunciada nesta quarta-feira (11) através das redes sociais do cantor, caiu como uma onda de silêncio sobre o mundo da música. “É com o coração partido que anunciamos o falecimento do nosso querido pai, Brian Wilson. Estamos sem palavras neste momento. Por favor, respeitem nossa privacidade, pois nossa família está de luto. Sabemos que estamos compartilhando nossa dor com o mundo”, dizia o comunicado publicado por seus filhos.
Mas quem foi, de fato, Brian Wilson?
Para muitos, ele era o rosto calmo e introspectivo em contraste com os sons ensolarados de canções como “Surfin’ U.S.A.”, “I Get Around” e “California Girls” — hinos atemporais de uma América que dançava despreocupada na década de 1960. Para outros, era o arquiteto das harmonias vocais mais complexas e emocionantes que o rock já conheceu. Para todos, um enigma.
O preço do gênio
Brian Wilson nasceu em Inglewood, Califórnia, em 1942, e fundou os Beach Boys em 1961 com seus irmãos Dennis e Carl, o primo Mike Love e o amigo Al Jardine. À frente do grupo, ele não só moldou o som da costa oeste dos EUA, mas redefiniu o que se entendia por música pop.
Por trás do brilho das melodias, porém, havia uma mente em conflito. Desde muito jovem, Brian enfrentava transtornos mentais graves. O diagnóstico mais recente, confirmado em 2024, foi um “distúrbio neurocognitivo severo”, semelhante à demência. Antes disso, conviveu com a esquizofrenia. Durante mais de seis décadas, os demônios internos do músico caminharam ao lado de sua genialidade criativa.
“Pet Sounds” e a sombra do fracasso
Em 1966, Brian lançou sua obra-prima: “Pet Sounds”. Aclamado pela crítica e considerado por artistas como Paul McCartney como uma das maiores criações da música moderna, o álbum foi, paradoxalmente, um fracasso comercial. O choque entre reconhecimento artístico e rejeição do público mergulhou Wilson em uma crise profunda — uma que levaria anos para ser superada.
A partir dali, o gênio californiano se afastou dos palcos e mergulhou num projeto ainda mais ousado: o disco “Smile”, que só seria finalizado 44 anos depois, em 2011. Entre colapsos nervosos, reclusão e terapias controversas, Brian oscilou entre o silêncio e o sublime, como se a música fosse seu último refúgio possível.
Conflitos, perdas e um legado imortal
A história dos Beach Boys também teve seus momentos sombrios. Disputas judiciais pelo nome da banda, separações criativas e mortes trágicas: Dennis Wilson se afogou em 1983; Carl Wilson sucumbiu ao câncer em 1998. Mike Love acabou mantendo os direitos sobre o nome do grupo, o que dividiu os integrantes restantes.
Mesmo assim, Brian continuou criando. Sua carreira solo foi marcada por turnês emocionantes e trabalhos intimistas, como o álbum “At My Piano” (2021), com versões instrumentais de suas composições. Também lançou o disco ao vivo “Brian Wilson and Friends”, em 2016, celebrando sua trajetória com participações especiais.
Em 2004, ele desembarcou no Brasil para apresentar “Smile” ao público latino-americano — uma espécie de redenção tardia, ovacionada por quem sabia que estava diante de algo mais do que um show: era um reencontro do artista com sua própria história.
Uma vida de cinema
A intensidade da trajetória de Brian Wilson não passou despercebida por Hollywood. Em 2014, o filme “Love & Mercy”, estrelado por Paul Dano e John Cusack, contou sua vida em duas fases: o jovem compositor em ascensão e o homem fragilizado por décadas de sofrimento psicológico. Já o documentário “Brian Wilson: Long Promised Road” (2021) ofereceu um retrato mais íntimo, com depoimentos de amigos e músicos que acompanharam de perto sua luta pela sanidade.
O silêncio final
A morte de Brian Wilson acontece pouco tempo após a de sua esposa, Melinda Kae Ledbetter, que faleceu em 2024. Ela foi sua parceira por décadas e uma das principais responsáveis por resgatar sua autonomia nos anos mais difíceis.
Wilson deixa sete filhos e uma obra que transcende o tempo. Suas harmonias vocais, seu perfeccionismo obsessivo e sua sensibilidade incomparável moldaram gerações. E, acima de tudo, lembram que por trás do pop açucarado e das praias douradas da Califórnia, havia um artista profundo, quebrado e brilhante — que transformou a dor em beleza.
Enquanto o mundo se despede, uma pergunta permanece ecoando nas ondas sonoras da história: quantas vidas cabem dentro de uma canção?
