Política

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Clara Charf, que nos deixou aos cem anos, foi mais do que uma militante política: foi um símbolo vivo da resistência, da esperança e da transformação social. Feminista incansável, ativista pelos direitos humanos e defensora da liberdade, Clara atravessou o século como uma força de luz em tempos de trevas, mostrando que a luta por justiça é também uma expressão de amor. Sua trajetória, entrelaçada à história do Brasil, inspira gerações de mulheres e homens que acreditam em um país mais justo, plural e solidário.

Nascida em 1925, em São Paulo, Clara viveu intensamente o turbilhão político e social do século XX. Casada com o também militante Carlos Marighella, foi companheira de vida e de ideais, enfrentando ao lado dele a perseguição e a violência da ditadura militar. Exilada por anos, Clara nunca se deixou abater: transformou o exílio em trincheira, a dor em força e a saudade em combustível para seguir lutando. Quando retornou ao Brasil, não descansou — fez da memória política sua bandeira e da solidariedade sua arma mais poderosa.

Fundadora do Partido das Trabalhadoras e Trabalhadores (PT), Clara acreditava que a política deveria ter rosto, coração e voz feminina. Em tempos em que as mulheres eram silenciadas, ela falou. Quando eram invisibilizadas, ela se fez presente. Clara não apenas abriu caminhos; pavimentou estradas por onde muitas de nós ainda caminhamos hoje. Sua trajetória reflete um compromisso radical com o amor e com a justiça, uma coerência rara em um mundo que insiste em dividir, em vez de unir.

Em cada espaço que ocupou — nas ruas, nas assembleias, nas conversas cotidianas — Clara carregava a firmeza de quem sabia que mudar o mundo exige coragem, mas também ternura. Seu ativismo não se limitava às pautas políticas; estendia-se à vida, à convivência, à escuta. Ela nos ensinou que feminismo é, antes de tudo, um ato de humanidade. Que lutar por igualdade é também lutar por empatia. E que a liberdade, quando partilhada, se multiplica.

A despedida de Clara acontece nesta segunda-feira (3 de novembro), das 18h às 21h, no Cemitério São Paulo, localizado na Rua Luís Murat, 2245, na Vila Madalena. A cremação será realizada no Crematório Vila Alpina, em cerimônia reservada. Amigos, familiares, militantes e admiradores de todo o país se reúnem para celebrar uma vida que foi, do início ao fim, uma afirmação do amor como agenda política. Clara parte, mas suas palavras, gestos e lutas permanecem como sementes em cada uma de nós.

“Diante do horror, ela se ergueu coletivamente e afirmou o amor como agenda política.” A frase, dita por uma de suas netas, resume a essência de quem foi Clara Charf: uma mulher que soube transformar a dor em potência, a indignação em movimento e a memória em resistência. Sua história é um lembrete de que o passado não deve ser esquecido — deve ser recontado, vivido e reinventado por quem acredita que outro futuro é possível.

Cem anos de Clara Charf são cem anos de Brasil — um Brasil que ela ajudou a moldar com sua voz firme e seu coração generoso. Uma existência que continua pulsando em cada ato de coragem, em cada mulher que se levanta, em cada jovem que sonha e luta por um mundo melhor. Clara foi e seguirá sendo uma referência eterna, um farol em meio às tempestades. Que sua trajetória inspire o presente e ilumine o futuro. Obrigada, Clara, por nos ensinar que o amor, quando é político, é revolucionário.