Política

Em depoimento: Bolsonaro tenta fazer piada com Moraes, e acaba sendo castig… Ver mais

Em meio a um dos momentos mais críticos da política recente brasileira, uma cena inesperada quebrou o clima tenso e arrancou risos – ainda que nervosos – na sede da Polícia Federal. Era para ser apenas mais um interrogatório no polêmico inquérito do golpe. Mas se transformou num episódio quase surreal quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) lançou uma proposta inusitada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Tudo parecia seguir o script habitual: perguntas firmes, advogados atentos, tensão no ar. O ex-presidente, investigado por suposta tentativa de subversão democrática e articulação para deslegitimar as eleições de 2022, havia acabado de prestar novas declarações dentro do inquérito que sacudiu Brasília nos últimos meses. No entanto, a rigidez do cenário cedeu lugar à incredulidade quando Bolsonaro, com um sorriso no rosto, interrompeu a formalidade para fazer uma brincadeira — que, dependendo da leitura, pode ter carregado uma pitada de provocação política.

“Eu gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 2026”, disse Bolsonaro, arrancando risos com a inesperada sugestão.

O convite foi direcionado ao próprio Alexandre de Moraes, magistrado que atualmente conduz parte dos processos mais delicados contra o ex-chefe do Executivo e que, desde 2021, se tornou alvo constante dos discursos bolsonaristas. Moraes respondeu à altura: com um sorriso irônico, sugeriu que o ex-presidente consultasse seus advogados antes de fazer esse tipo de piada. E, em tom igualmente descontraído, recusou: “Declino do convite.”

A troca inusitada, embora cercada de leveza momentânea, não apagou o pano de fundo sombrio que ronda a audiência. Antes da brincadeira, Bolsonaro havia voltado a falar sobre temas sensíveis, como sua popularidade no Nordeste e a forma como vem sendo retratado na imprensa e no meio político. Ele chegou a mencionar uma viagem próxima ao Rio Grande do Norte e se ofereceu para enviar vídeos a Moraes que mostrariam sua “aceitação popular” na região. O ministro, sem titubear, recusou o conteúdo, o que causou mais um momento de risos entre os presentes.

Mas nem tudo foi descontração. O momento mais espinhoso veio quando Bolsonaro se viu obrigado a tocar num ponto delicado de sua relação com o ministro: uma declaração feita em 2022, durante uma reunião fechada, na qual acusava Alexandre de Moraes de ter recebido supostos US$ 50 milhões para fraudar o resultado das eleições presidenciais daquele ano. Desta vez, Bolsonaro adotou um tom mais comedido. Sem rodeios, pediu desculpas ao magistrado. O gesto surpreendeu, sobretudo por vir de alguém que por anos manteve um discurso inflamado contra a Justiça Eleitoral e seus representantes.

Nos bastidores, a cena foi descrita como “surreal”. Um encontro de opostos, marcado por provocações veladas, pedidos de desculpas inesperados e, por fim, uma brincadeira que soou tanto como zombaria quanto como tentativa de distensionar um ambiente carregado.

A questão que agora circula entre analistas políticos e observadores atentos é: o que Bolsonaro realmente pretendeu com esse gesto? Teria sido uma tentativa de humanizar sua imagem diante da crescente pressão judicial? Ou apenas mais uma jogada típica de quem dominou por anos a arte de provocar o sistema com ironias afiadas?

Independentemente da motivação, o episódio mostra um Jair Bolsonaro ainda disposto a se manter em evidência, mesmo diante de sua inelegibilidade até 2030. Embora legalmente impedido de disputar as eleições de 2026, o ex-presidente continua a agir como figura central do seu grupo político. E a cada aparição pública – ou depoimento formal – busca alimentar o imaginário de que ainda tem um papel importante a cumprir na arena eleitoral.

Já Moraes, por sua vez, mantém a postura firme e inabalável que o transformou numa das figuras mais polarizadoras do Judiciário brasileiro. Sua recusa cortês, mas incisiva, ao convite irônico de Bolsonaro, reforça o jogo de aparências que domina a política institucional do país.

No fim, o que era para ser apenas mais um passo no processo do inquérito que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado ganhou contornos teatrais. E como toda boa narrativa brasileira dos últimos anos, deixou no ar mais perguntas do que respostas.

O que Bolsonaro quis dizer, afinal, com esse convite? Foi um gesto de paz, uma provocação velada ou apenas o humor de quem se vê acuado, mas ainda joga com as regras do espetáculo político? A resposta talvez esteja na próxima audiência. Ou na próxima piada.