Política

Deputada Carla Zambelli é presa na Itália após br… Ver mais

Roma, 29 de julho de 2025 — Em um desfecho surpreendente que vem repercutindo em esferas políticas do Brasil e da Europa, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi presa nesta terça-feira (29) em Roma, na Itália. A prisão foi confirmada pelo Ministério da Justiça italiano e pelo deputado ambientalista Angelo Bonelli, que afirmou ter colaborado diretamente com a localização da parlamentar.

“Carla Zambelli está em um apartamento em Roma. Informei o endereço à polícia e, neste momento, os policiais estão identificando Zambelli”, publicou Bonelli em sua conta na rede social X, antigo Twitter, no início da tarde no horário de Brasília.

Zambelli, uma das figuras mais proeminentes do bolsonarismo no Congresso Nacional, estava foragida desde o início de junho, após ter sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão em regime fechado. A condenação incluiu também a perda do mandato parlamentar e suspensão dos direitos políticos, uma das penas mais severas aplicadas a um político brasileiro nos últimos anos.

A decisão da Suprema Corte decorre da participação direta de Zambelli na invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2022, ao lado do hacker Walter Delgatti Neto, que já havia sido condenado em processos anteriores pela Operação Spoofing. As ações da deputada foram consideradas como tentativa de desestabilização institucional e ataque à integridade do Judiciário brasileiro.

Cidadania italiana e fuga estratégica

Após a condenação, Zambelli deixou o Brasil em caráter clandestino e foi localizada semanas depois em território italiano, onde solicitou proteção com base em sua cidadania europeia. O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, passou a negociar com Roma sua extradição, processo que enfrentava resistência de setores do governo italiano simpáticos à extrema-direita.

A prisão representa uma reviravolta inesperada nesse impasse. A atuação de Bonelli, parlamentar opositor ao governo de extrema-direita da primeira-ministra Giorgia Meloni, foi fundamental para o desfecho. Segundo fontes ligadas ao Parlamento Italiano, Bonelli teria recebido informações de que Zambelli estaria escondida em um apartamento alugado na região de Trastevere, tradicional bairro da capital italiana, e imediatamente acionou as autoridades.

Repercussão internacional

A prisão da parlamentar repercutiu intensamente nas redes sociais e veículos de imprensa brasileiros e europeus. Enquanto apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro trataram o episódio como perseguição política, adversários destacaram a atuação coordenada entre os poderes Judiciário e Executivo para garantir a responsabilização de figuras públicas envolvidas em crimes digitais e ataques à democracia.

Em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou em nota oficial que “respeita as decisões do Judiciário e aguarda a tramitação regular do processo de extradição, caso seja mantida a prisão”. Já o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, elogiou a cooperação internacional. “É um marco importante na consolidação das instituições democráticas e no combate à impunidade, independentemente do cargo ou do foro privilegiado”, disse.

Próximos passos

Com a prisão confirmada, o governo brasileiro deve reforçar junto à Justiça italiana o pedido formal de extradição, previsto no tratado bilateral assinado entre os dois países em 1989. Embora Zambelli possua cidadania italiana, a legislação europeia permite a extradição de nacionais em casos de crimes graves reconhecidos pelas duas jurisdições — como invasão de sistemas públicos e atentado contra a ordem institucional.

Especialistas em direito internacional ouvidos pela reportagem afirmam que a tramitação pode levar semanas, ou até meses, dependendo dos recursos que a defesa da deputada poderá interpor nos tribunais italianos. No entanto, a prisão preventiva já marca um avanço considerável no processo, sinalizando que a Itália não deverá proteger a ex-parlamentar de forma indefinida.

Um capítulo a mais na crise institucional brasileira

Carla Zambelli, conhecida por seus posicionamentos inflamados, ficou nacionalmente famosa durante o governo Bolsonaro, sendo uma das principais vozes contra o STF e o TSE. A ligação com Delgatti e os ataques cibernéticos ao CNJ representaram o ápice de sua cruzada contra o sistema judicial — mas também o início de sua queda.

Sua prisão fora do país, após tentativa de se escorar na dupla nacionalidade para evitar a Justiça, levanta discussões sobre os limites da imunidade parlamentar, os mecanismos de cooperação internacional e o enfraquecimento do discurso de impunidade. O caso também coloca pressão sobre figuras próximas do bolsonarismo que possam estar em situação semelhante.

Enquanto Zambelli aguarda os desdobramentos legais em solo europeu, a política brasileira segue atenta — não apenas ao seu destino jurídico, mas às implicações políticas de seu caso. Afinal, se até os mais ferrenhos defensores da impunidade institucional estão sendo alcançados pela Justiça, o que isso significa para o futuro do extremismo político no Brasil?