Notícias

Criança m0rre com 33 paradas cardíacas, após ser picado por… Ver mais

Um caso devastador ocorrido em Cambará (PR) escancara falhas no sistema de saúde e levanta um alerta nacional sobre os riscos com animais peçonhentos.

Na manhã da última segunda-feira, 14 de julho, o pequeno Bernardo Gomes de Oliveira, de apenas três anos, se preparava para mais um dia comum ao lado da família em Cambará, no norte do Paraná. No entanto, o que começou como uma simples rotina matinal terminou em tragédia — e revolta. O menino foi picado por um escorpião-amarelo que estava escondido dentro de seu tênis. A picada foi apenas o início de uma sequência dramática de falhas e omissões que culminaram na morte do garoto.

O acidente: um gesto cotidiano, uma fatalidade inesperada
De acordo com familiares, Bernardo foi colocar os tênis que haviam sido deixados secando em uma mureta, quando sentiu a picada. O escorpião, da espécie Tityus serrulatus, conhecida por seu alto grau de toxidade, estava oculto dentro do calçado. Em instantes, os sintomas começaram a se manifestar: dor intensa, inchaço, choro ininterrupto. A família, desesperada, correu contra o tempo e levou Bernardo à unidade de pronto-atendimento mais próxima.

Mas, a cerca de 20 quilômetros do local do acidente, a estrutura encontrada na unidade de saúde não foi suficiente. Segundo relatos, o posto não dispunha de doses completas do soro antiescorpiônico — medicamento essencial para neutralizar o veneno do animal.

A corrida contra o tempo e a ausência do antídoto
Bernardo chegou à unidade médica com o quadro clínico se agravando rapidamente. A equipe médica aplicou cinco doses do soro, mas segundo orientações do protocolo médico, seriam necessárias ao menos seis para o tratamento adequado em crianças. A ausência da dose final pode ter sido determinante para o desfecho fatal.

Enquanto a família aguardava a chegada de uma ambulância com melhores condições de suporte, o estado de Bernardo piorava. Com o passar das horas, o menino foi transferido de helicóptero para um hospital de referência em Londrina. Lá, mesmo com todos os esforços da equipe médica, Bernardo sofreu um total de 33 paradas cardíacas antes de ter o óbito confirmado.

Dor, comoção e revolta
A morte do menino abalou a comunidade local e gerou comoção nas redes sociais. Amigos, vizinhos e pessoas de diversas regiões prestaram solidariedade à família. Mensagens de apoio se multiplicaram, mas também surgiram questionamentos: como uma unidade de saúde, em pleno inverno — época de aumento nos casos de acidentes com animais peçonhentos — pode operar com doses insuficientes de um soro essencial?

A mãe de Bernardo, ainda abalada, declarou que nunca imaginaria algo tão trágico vindo de uma situação tão comum. “Ele só foi calçar o tênis… era um menino feliz, esperto, cheio de vida”, desabafou.

Escorpiões: um perigo crescente no Brasil
O caso de Bernardo evidencia um problema que não é novo: a proliferação de escorpiões em áreas urbanas e semiurbanas no Brasil. O escorpião-amarelo, responsável pela maioria dos acidentes graves com crianças no país, tem se adaptado cada vez mais ao ambiente urbano. Calçados, roupas e móveis são esconderijos frequentes desses animais, especialmente em períodos mais quentes e secos.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil registra cerca de 160 mil acidentes com escorpiões por ano. Crianças são particularmente vulneráveis por conta do baixo peso corporal, o que torna o efeito do veneno mais agressivo e de ação mais rápida.

Falhas no sistema de saúde e investigação em andamento
Após o ocorrido, autoridades de saúde do Paraná abriram investigação para apurar as circunstâncias da morte de Bernardo. Entre os pontos principais está a escassez de soro antiescorpiônico na unidade de saúde para onde a criança foi levada inicialmente.

O caso também reacendeu debates sobre a necessidade de protocolos mais rígidos em regiões com histórico de presença de escorpiões. Moradores e profissionais de saúde cobram medidas preventivas, campanhas de conscientização e ampliação da distribuição dos soros em unidades de menor porte.

Lições a partir de uma tragédia
Enquanto o país lamenta a perda precoce de Bernardo, especialistas reforçam um alerta que não pode mais ser ignorado: é urgente melhorar as políticas públicas de combate a animais peçonhentos e garantir estrutura adequada nas emergências médicas.

A história do menino de Cambará não pode ser apenas mais um número nas estatísticas. Ela deve servir como um chamado para ação — antes que outras famílias sejam devastadas por tragédias que poderiam ser evitadas.