Política

BOMBA: Olha só o recado que a Janja mandou pra Michelle, disse que ela era p… Ver mais

Em tempos de redes sociais afiadas e discursos cada vez mais vigiados, a sinceridade de uma figura pública pode acender holofotes — ou incendiar debates. Foi exatamente o que aconteceu com a primeira-dama Janja Lula da Silva nesta sexta-feira (23), após uma entrevista que, mesmo sem prometer, entregou farpas, ironias e reflexões sobre o poder, a imagem e o papel das mulheres na política.

Sentada no estúdio do podcast da Folha de S.Paulo, Janja não se esquivou de perguntas polêmicas — e foi além. Ao ser questionada se costuma viajar com maquiador, sua resposta, carregada de ironia, soou como um míssil disfarçado de brincadeira.

“Não sou dessas, você está confundindo a primeira-dama. Então, é a outra, não sou eu. Às vezes é exaustivo, porque eu tenho que passar minha roupa, eu mesma faço o meu cabelo. Tirei os óculos, não enxergo nada. Como é que maquio?”

A frase, que parece uma piada despretensiosa, caiu como uma indireta direta para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, conhecida por estar sempre acompanhada de seu maquiador pessoal, o uruguaio Agustín Fernandez — presença registrada em eventos como a posse de Donald Trump e até no funeral da rainha Elizabeth II.

Coincidência? Dificilmente.

A entrevista, no entanto, não se limitou a comparações veladas. Janja aproveitou para lançar luz sobre sua própria atuação pública — frequentemente criticada por setores conservadores e até mesmo por parte da imprensa. Ao relembrar episódios controversos, como sua fala descontraída durante um jantar diplomático com o presidente chinês Xi Jinping, em 2023, a primeira-dama contestou as acusações de quebra de protocolo.

“Não foi quebra de protocolo nenhum. Estávamos num jantar, conversando. Não entrei numa sala gritando. Quer dizer, eu não posso falar? Não sou um biscuit de porcelana”, declarou.

A metáfora — contundente e quase poética — sugere mais do que um incômodo pessoal. Ela escancara o peso simbólico que o cargo de primeira-dama carrega: ser vista, mas nem sempre ouvida. Aparecer, mas sem fazer sombra. E se ousar fazer isso tudo com opinião própria? Prepare-se para o julgamento.

O arrependimento que não é arrependimento

Outro momento revelador da entrevista foi quando Janja tocou em sua crítica pública ao bilionário Elon Musk, feita durante o encontro do G20 em novembro de 2024. Na ocasião, suas palavras foram classificadas como “agressivas”. Hoje, ela até admite que se excedeu — mas apenas na forma, não no conteúdo.

“Fazer crítica a ele eu sigo fazendo, porque ele continua se achando o dono do mundo.”

A fala, corajosa ou arriscada (dependendo da lente com que se olha), revela uma primeira-dama disposta a sair da moldura. Janja não quer ser coadjuvante decorativa. Quer falar, influenciar, ser protagonista de suas próprias pautas — ainda que negue qualquer intenção de seguir carreira política.

“Não me imagino tendo uma carreira política. Tudo o que escrevi para o meu marido nos 580 dias de prisão — de termos uma vida juntos, passear, conhecer lugares — ainda sonho em fazer. Quando tudo isso acabar, quero pegar meu marido pelo braço e sair por aí com ele.”

Janja entre o público e o privado

Ao mesmo tempo em que afirma não querer entrar formalmente na política, Janja ocupa, na prática, um dos palcos mais políticos do Brasil. Suas ações, palavras e até silêncios são escrutinados. E ela sabe disso. Mas o que mais parece incomodá-la é a forma como outras mulheres reagem à sua presença.

“O que não entendo são outras mulheres, que deveriam estar entendendo o que está acontecendo no momento político do Brasil, e não simplesmente virar a bazuca contra mim.”

Esse desabafo talvez seja o trecho mais sensível — e revelador — de toda a entrevista. Não se trata apenas de disputas entre primeiras-damas ou de fofocas de bastidor. Trata-se do papel da mulher na arena pública. De como, muitas vezes, são outras mulheres que reproduzem os padrões que silenciam, diminuem ou hostilizam figuras femininas que se recusam a ser invisíveis.

Conclusão: Janja, a incógnita revelada

Com sua fala direta, espirituosa e, por vezes, provocadora, Janja Lula da Silva mostra que não pretende ocupar o papel tradicional que o cargo costuma impor. Seu estilo divide opiniões — mas é justamente essa divisão que revela sua força simbólica. Ao não ser “um biscuit de porcelana”, ela desafia tanto aliados quanto opositores.

Na entrevista que começou com uma pergunta sobre maquiagem, revelou-se um retrato mais profundo: o de uma mulher que vive entre o peso da representação pública e o desejo por uma vida comum. Uma figura que provoca porque existe — e insiste — em ser mais do que decorativa.

E você, leitor, já se perguntou quantas “primeiras-damas” do Brasil foram realmente ouvidas antes?