BOMBA: Bolsonaro confessa que ele m… Ver mais

Natal, RN – 12 de junho de 2025. A tarde avançava lentamente, abafada pelo calor potiguar, quando um silêncio denso tomou conta do plenário Érico Hackradt, na Câmara Municipal de Natal. O momento, aguardado com expectativa por apoiadores e tensionado por opositores, marcava a entrega solene dos títulos de cidadão natalense e potiguar ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas o que parecia ser apenas mais uma cerimônia protocolar, ganhou contornos de discurso político com apelo emocional, lampejos de suspense e recados incisivos ao país.
Vestindo seu tradicional traje escuro, Bolsonaro subiu à tribuna sob aplausos calorosos e olhos atentos. O que se ouviu ali não foi apenas um agradecimento formal. Foi um manifesto, uma reafirmação pública de que sua trajetória política está longe de terminar — mesmo que juridicamente barrada. “Não sou denunciado, não sou investigado por corrupção ou malfeitos. O que dizem ser um plano de golpe nem no papel existiu”, declarou, num tom que oscilava entre o desabafo e a provocação.
Uma Tarde de Comendas e Alinhamentos
O evento foi conduzido por autoridades locais e parlamentares do PL, entre eles o vereador Subtenente Eliabe e o deputado estadual Coronel Azevedo, autores das propostas que conferiram os títulos ao ex-presidente. Na plateia, uma elite política da direita potiguar se formava como emblema de união: Rogério Marinho, Paulinho Freire, Álvaro Dias, Carla Dickson, General Girão, Sargento Gonçalves, entre outros rostos conhecidos da oposição a Lula e Fátima Bezerra.
Foi mais do que uma homenagem. Foi um alinhamento estratégico, quase um ato de mobilização política. Um gesto simbólico de que o bolsonarismo permanece vivo, mesmo fora do Palácio do Planalto. E a mensagem foi clara: Bolsonaro não está apenas revisitando o passado — ele está sondando o futuro.
Entre Aplausos e Memórias: O Homem, o Mito e o Sobrevivente
Em meio à solenidade, Bolsonaro recorreu à memória para reconstruir sua própria narrativa: um capitão do Exército que, em 1988, iniciou sua vida política sem grandes pretensões e que, três décadas depois, chegou ao topo da República. “Quando fui eleito vereador, andava numa DT 180 a 140 km/h pela avenida Brasil, gritando de alegria. Jamais imaginei chegar onde cheguei”, recordou.
Mas o ponto de inflexão veio com um momento sombrio: a facada durante a campanha de 2018. “Tentaram tirar minha vida… não conseguiram”, afirmou, deixando no ar a gravidade do episódio como um divisor de águas em sua trajetória — e como justificativa implícita de sua resiliência.
O Nordeste e a Emoção do Reconhecimento
Ao receber os títulos, Bolsonaro fez questão de exaltar a região que o acolhia. “Receber essas comendas aqui, no Nordeste, tem um sabor especial. O calor humano, o carinho nos olhos das pessoas, é diferente”, declarou. Um discurso cuidadosamente moldado para consolidar sua crescente base de apoio nordestina — região tradicionalmente dominada por forças progressistas, mas que, nos últimos anos, tem mostrado sinais de polarização.
Rogério Marinho, senador e seu aliado mais próximo no estado, reforçou esse tom ao afirmar: “Bolsonaro não é apenas um político, é um sentimento, uma ideia que não pode ser eliminada por canetadas.”
Pandemia, Críticas e a “Verdade Que Está Chegando”
Em meio a elogios, houve espaço para polêmicas. Bolsonaro voltou a defender sua gestão durante a pandemia, mencionando o ex-ministro Marcelo Queiroga e criticando o que chamou de “judicialização da crise sanitária”.
Sem hesitar, disparou contra a indústria farmacêutica e alfinetou o STF: “Politizaram tudo, fizeram de tudo para que a indústria da vacina se fizesse presente. Mas agora a verdade está vindo à tona. A pandemia é página virada”, declarou, evocando um relatório do Congresso americano como se fosse um espelho de suas decisões.
União Conservadora e Olhar Para o Futuro
O evento, embora solene, revelou o vigor da articulação da direita no RN. Além dos nomes já consolidados, chamou atenção a presença de jovens lideranças e ex-ministros do governo Bolsonaro, como Gilson Machado e Queiroga. A simbologia era clara: não se tratava apenas de celebrar o passado, mas de sinalizar a permanência de um projeto político.
Com a voz embargada ao final de seu discurso, Bolsonaro deixou um recado que misturava fé e ambição: “Peço a Deus forças para continuar servindo ao meu país. Se for da vontade Dele, voltarei.” E, como que ensaiando uma nova largada, complementou: “Aos 70 anos, estou mais preparado do que nunca.”
Natal, a Nova Casa de Bolsonaro?
Encerrando a solenidade, o presidente da Câmara, Ériko Jácome, declarou oficialmente: “Natal agora é sua casa.” Uma frase que, para muitos, pode parecer apenas uma cortesia institucional. Mas para os aliados do ex-presidente, soou como uma senha para futuras movimentações.
Assim, o que começou como um simples ato de entrega de honrarias transformou-se num palco de reafirmação ideológica e de articulação política. Bolsonaro saiu ovacionado — não apenas com os títulos de cidadão potiguar e natalense, mas com a convicção de que, apesar das adversidades, seu nome continua presente no imaginário de boa parte dos brasileiros.
E como ele mesmo disse, numa frase envolta em suspense e esperança: “Ainda não acabou.”
