B0MB4: Após boicote, Fernanda Torres acaba de fa… Ver mais

As ações da Alpargatas amanheceram em destaque no mercado financeiro nesta segunda-feira (22), chamando a atenção de investidores, analistas e do público em geral. O motivo não foi um balanço trimestral nem uma mudança estratégica anunciada ao mercado, mas sim a forte repercussão negativa de uma campanha publicitária de fim de ano estrelada pela atriz Fernanda Torres. Em poucas horas, a iniciativa de marketing, pensada para inspirar otimismo e protagonismo, transformou-se em um ponto de tensão que ultrapassou o universo da comunicação e impactou diretamente o desempenho dos papéis da companhia na bolsa.
Por volta das 11h20, as ações preferenciais ALPA4 registravam queda de 3,07%, sendo negociadas a R$ 11,36, enquanto os papéis ordinários ALPA3 recuavam 2,59%, cotados a R$ 9,98. O movimento refletiu um aumento significativo da cautela por parte dos investidores, que passaram a precificar não apenas os fundamentos da empresa, mas também os riscos relacionados à imagem da marca. Em um mercado cada vez mais sensível a fatores reputacionais, episódios de grande repercussão nas redes sociais tendem a influenciar decisões de curto prazo.
A campanha que deu origem à controvérsia trazia Fernanda Torres afirmando que não desejava que as pessoas “comecem o ano com o pé direito”, convidando o público a iniciar 2026 “com os dois pés”. Segundo a proposta criativa, a mensagem buscava estimular atitude, engajamento e participação ativa diante dos desafios do novo ano. No entanto, a forma como o conceito foi apresentado abriu espaço para interpretações diversas, especialmente em um ambiente digital marcado por leituras rápidas e reações imediatas.
Nas redes sociais, a repercussão ganhou força em poucas horas. Parte dos usuários interpretou o discurso como uma provocação de cunho político, o que intensificou a polarização em torno da marca. Comentários críticos, compartilhamentos e debates se multiplicaram, colocando a Alpargatas no centro de uma discussão que extrapolou o objetivo inicial da campanha. Em tempos de forte engajamento digital, marcas consolidadas passam a ser avaliadas não apenas por seus produtos, mas também pelas mensagens que associam à sua identidade.
O episódio ganhou ainda mais visibilidade após manifestações públicas de políticos e influenciadores alinhados à direita, que passaram a sugerir um boicote à empresa. Entre eles, o deputado Eduardo Bolsonaro publicou um vídeo em suas redes sociais no qual critica a campanha e acusa a marca de transmitir uma mensagem política de forma disfarçada. A gravação rapidamente circulou entre apoiadores, ampliando o alcance da crítica e reforçando o clima de pressão sobre a companhia.
Diante do aumento do ruído e da repercussão negativa, a Alpargatas optou por retirar o vídeo da campanha de todas as suas redes sociais. A decisão foi interpretada por parte do mercado como um reconhecimento de que a estratégia de comunicação não alcançou o resultado esperado. Embora a empresa não tenha divulgado, até o momento, um posicionamento detalhado sobre o episódio, o recuo indica uma tentativa de conter danos à imagem e evitar novos desdobramentos no ambiente digital.
O caso evidencia como campanhas publicitárias podem gerar impactos que vão além da comunicação e alcançar diretamente o valor de mercado das empresas. Em um cenário de consumidores atentos e investidores cada vez mais sensíveis a questões reputacionais, a gestão da marca torna-se um ativo estratégico. Para a Alpargatas, o desafio agora é restabelecer a confiança, reduzir a volatilidade dos papéis e mostrar ao mercado que o episódio foi pontual, sem comprometer a solidez de seus negócios e sua relação com diferentes públicos.





