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Após operação no RJ: Terror: 40 corpos são carregados pela população para o meio da… Ler mais

Na madrugada desta quarta-feira (29), a Zona Norte do Rio de Janeiro viveu um dos episódios mais sombrios de sua história recente. Moradores do Complexo da Penha levaram cerca de 50 corpos até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, em um ato de desespero e revolta. O gesto, carregado de dor e indignação, ocorreu apenas um dia após uma operação policial classificada como a mais letal já registrada no estado. O chão da praça, iluminado por velas e celulares, tornou-se um palco de denúncia e clamor por respostas.

De acordo com informações preliminares, a operação iniciada na manhã de terça-feira resultou em cerca de 100 mortes, entre suspeitos e moradores atingidos durante os intensos confrontos. Entre as vítimas, estão também quatro policiais, segundo fontes da Secretaria de Segurança Pública. O cenário é de guerra: ruas esburacadas por tiros, carros incendiados, e uma comunidade mergulhada no luto. Ainda não há confirmação se os corpos deixados pelos moradores fazem parte desse número ou se representam novas vítimas — o que poderia elevar ainda mais a trágica contagem de mortos.

Nas redes sociais, vídeos e transmissões ao vivo mostram o desespero de familiares que buscam parentes desaparecidos. Muitos afirmam que há corpos espalhados em vielas e becos ainda não recolhidos pelas autoridades. “Eles entraram atirando. Ninguém sabe quem morreu, quem foi levado, quem está ferido. A gente só quer justiça e respeito”, desabafou uma moradora, em prantos, durante uma transmissão feita por celular. As imagens, que viralizaram rapidamente, geraram uma onda de comoção nacional e colocaram novamente em pauta a violência policial e o descaso com as comunidades periféricas.

Autoridades estaduais afirmam que a ação tinha como objetivo desarticular facções criminosas que controlam a região e foram responsáveis por ataques recentes a policiais. No entanto, organizações de direitos humanos denunciam execuções sumárias, invasões de casas e uso excessivo da força. A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro anunciou que vai abrir um procedimento para apurar as circunstâncias das mortes, enquanto o Ministério Público cobra transparência nas investigações. “Nenhum resultado operacional justifica o massacre de civis”, afirmou em nota a Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.

Enquanto isso, o clima na Penha é de tensão e medo. Escolas e postos de saúde permanecem fechados, o comércio não abriu as portas e o transporte público opera de forma parcial. Moradores relatam presença constante de helicópteros e blindados, o que mantém a sensação de cerco. “Parece que a gente não vive no mesmo país dos outros. Aqui, a vida vale menos”, disse um jovem de 22 anos que preferiu não se identificar. Em meio à dor, lideranças comunitárias organizam vigílias e coletivos locais se mobilizam para arrecadar alimentos e ajudar famílias que perderam entes queridos.

A repercussão do caso ultrapassou as fronteiras do estado. Entidades internacionais, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, pediram investigação independente e urgente sobre o que chamaram de “massacre do Complexo da Penha”. Parlamentares e organizações civis pressionam o governo federal a se manifestar, exigindo o fim de operações que resultam em números tão altos de mortes. O presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos classificou a ação como “um dos episódios mais graves da história da segurança pública brasileira”.

Enquanto o dia amanhecia sobre a Penha, o que se via era uma cena de luto coletivo: mães chorando, jovens revoltados e uma comunidade sem respostas. A praça onde os corpos foram deixados se transformou em símbolo da dor e da resistência de um povo cansado de ser tratado como alvo. A tragédia expõe, mais uma vez, a ferida aberta da desigualdade e da violência urbana no Brasil, que insiste em sangrar, especialmente nas favelas do Rio. Resta saber se, desta vez, o clamor por justiça ecoará além dos muros da comunidade — ou se mais uma vez será engolido pelo silêncio das estatísticas.