Política

Após decisão de Moraes: Coube ao Flávio Bolsonaro receber notícia sobre o pai, ele… Ver mais

Em meio a um cenário político cada vez mais sensível, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou em ação com urgência neste fim de semana para conter os efeitos de uma publicação considerada arriscada por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Um vídeo postado nas redes sociais pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em que o pai aparece falando diretamente aos apoiadores, foi rapidamente retirado do ar após orientação dos advogados. A preocupação não era pequena: o conteúdo poderia ser interpretado como violação direta de uma medida cautelar imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, que proíbe o ex-presidente de usar redes sociais — inclusive de terceiros.

A decisão de Flávio em apagar o vídeo imediatamente foi lida nos bastidores do Judiciário como uma tentativa clara de evitar um novo confronto com Moraes. O ministro já havia emitido um alerta explícito: qualquer nova tentativa de burlar as restrições poderia levar à prisão imediata de Bolsonaro. Em julho, um episódio semelhante, envolvendo uma aparição nas redes de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), já havia gerado tensão. Na ocasião, Moraes tratou o caso como isolado e aplicou apenas uma advertência. Mas agora, com um segundo incidente, a margem de tolerância parece cada vez menor.

O vídeo que motivou a movimentação mostra Bolsonaro em um tom emocionado, segurando o celular e usando tornozeleira eletrônica. Ele saúda os apoiadores que se reuniram em Copacabana no último domingo, durante um ato a favor da sua liberdade e em defesa do que seus aliados chamam de “liberdades ameaçadas”. A cena foi montada com legendas típicas de plataformas como TikTok e Instagram, tornando a peça facilmente viralizável. “Boa tarde, Copacabana. Boa tarde, meu Brasil. Um abraço a todos. É pela nossa liberdade. Estamos juntos”, diz o ex-presidente no trecho.

O tom aparentemente inocente da fala não convenceu a equipe jurídica de Bolsonaro, que avaliou que o simples fato de ele aparecer nas redes de um terceiro já seria suficiente para desencadear uma nova crise judicial. A atuação rápida da defesa, segundo fontes ligadas ao STF, pode ter sido decisiva para evitar uma consequência mais grave. A publicação foi retirada em poucas horas, e uma comunicação informal foi feita aos gabinetes para reforçar que a equipe do ex-presidente agiu com “boa-fé” ao reconhecer o erro.

Internamente, ministros do Supremo continuam divididos sobre como lidar com o ex-presidente. Alguns veem os episódios como tentativas deliberadas de desafiar a autoridade da Corte e tensionar a relação entre os Poderes. Outros, porém, adotam uma leitura mais estratégica, observando que uma prisão agora poderia gerar instabilidade e fortalecer narrativas de perseguição política entre a base bolsonarista. A advertência feita em julho, nesse sentido, foi uma escolha política tanto quanto jurídica.

Para o núcleo duro de apoiadores de Bolsonaro, a imagem dele com a tornozeleira eletrônica, falando diretamente ao “povo”, tem valor simbólico forte — é apresentada como a de um líder injustiçado, em luta contra um sistema que busca silenciá-lo. Nas redes sociais, mesmo com o vídeo apagado, prints circularam amplamente, reacendendo o debate sobre liberdade de expressão, ativismo judicial e o alcance das medidas restritivas. A repercussão já é explorada politicamente por parlamentares da oposição, que acusam o STF de extrapolar seus poderes.

Ao apagar o vídeo, Flávio Bolsonaro tentou evitar que o episódio ganhasse contornos maiores. Mas o episódio evidencia o quão delicada continua sendo a posição jurídica e política de Jair Bolsonaro. Mesmo longe da Presidência, ele segue sendo uma figura polarizadora — capaz de mobilizar massas e desafiar instituições com uma única frase. A tensão entre o bolsonarismo e o Supremo, portanto, permanece viva, à espera de seu próximo capítulo.