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Abandonado por Trump? Desfecho de Bolsonaro pode ser trágico e ele deve se man… Ler mais

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de revogar a sanção imposta ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky provocou forte repercussão no cenário político internacional. O gesto foi interpretado como uma mudança significativa na postura da Casa Branca em relação ao Brasil e marcou um novo capítulo nas relações entre os dois países. Para especialistas, a medida vai além de um simples recuo diplomático e indica uma reavaliação estratégica de prioridades por parte do governo americano.

Na avaliação do brasilianista Brian Winter, editor da revista Americas Quarterly, a decisão representa uma verdadeira virada. Em entrevista à BBC News Brasil, Winter afirmou que Trump abandonou completamente a estratégia anunciada em 9 de julho, quando o governo americano havia sinalizado uma postura mais dura, inclusive com o anúncio de novas tarifas sobre produtos brasileiros. Segundo ele, embora essa estratégia já viesse sendo ajustada ao longo dos meses, a revogação da sanção configura uma mudança profunda de rumo, descrita como uma guinada de 180 graus.

Para o analista, esse comportamento está alinhado ao estilo político de Trump, conhecido por alterar decisões sempre que percebe que elas não estão produzindo os resultados esperados. Winter destaca que o presidente americano costuma agir de forma pragmática, priorizando ganhos concretos em detrimento de discursos ideológicos prolongados. Quando uma medida gera mais custos do que benefícios, especialmente no cenário interno dos Estados Unidos, Trump tende a recuar e buscar alternativas mais vantajosas.

Segundo Winter, o início dessa mudança de postura pode ser identificado no encontro entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A reunião teria aberto canais de diálogo mais diretos entre os dois governos, sinalizando uma disposição maior para o entendimento. Ainda assim, o especialista observa que Trump deixou claro, ao menos neste momento, que não pretende atuar em defesa da família Bolsonaro, afastando-se de expectativas criadas por aliados do ex-presidente brasileiro.

Nesse contexto, a suspensão de parte das tarifas aplicadas a produtos brasileiros reforça a leitura de que fatores econômicos tiveram peso decisivo na revisão da estratégia americana. De acordo com Winter, os efeitos dessas tarifas foram sentidos de forma mais intensa dentro dos próprios Estados Unidos, especialmente no aumento de preços de itens sensíveis ao consumidor, como café e carne. A pressão inflacionária nesses setores teria levado o governo a ampliar a lista de exceções, reduzindo o impacto sobre o mercado interno.

A revogação da sanção baseada na Lei Magnitsky, por sua vez, é vista como um sinal de que as conversas entre Washington e Brasília avançaram para além do campo comercial. Winter avalia que há negociações em andamento envolvendo áreas estratégicas, como o acesso a recursos naturais. Entre os temas possíveis está o interesse americano nas chamadas terras raras, um grupo de minerais fundamentais para a indústria de tecnologia, energia renovável e mobilidade elétrica, e que o Brasil possui em quantidade relevante.

Para o editor da Americas Quarterly, o uso da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes teve um peso político considerável no debate interno dos Estados Unidos, gerando questionamentos e desconfortos. Reverter essa decisão, portanto, abre espaço para novas formas de cooperação com o governo Lula e reduz tensões desnecessárias. Mais do que um gesto isolado, a medida sinaliza que o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos pode entrar em uma fase mais pragmática, baseada em interesses econômicos e estratégicos compartilhados, mantendo o leitor atento aos próximos movimentos desse cenário em constante transformação.